Adoração em MOVIMENTO parte IV

A dança não pode seguir o caminho da música cristã, que virou um espetáculo, comprometendo seu aspecto ministerial?

No Diante do Trono, temos uma posição muito definida em relação às ministrações: para nós, não existe o show, mas o culto a Deus. O que precisamos entender é que Deus não se emociona com nossa dança, nem com nossa música, muito menos com nossos talentos. Infelizmente, muitos irmãos ou irmãs têm confundido o real significado da dança na igreja. Esquecem-se de que, para nós, não existe palco. A síndrome secular de "artista", de "estrela", ainda paira no ar. Precisamos vigiar nossas motivações o tempo todo - não podemos, por exemplo, perder o foco de Deus. A dança nas igrejas não pode ser objeto de distração, mas de ligação com o Senhor. Em todos os aspectos e em todo o tempo, devemos vigiar nossa vida pessoal com Deus.

Como evitar, por exemplo, que manifestações corporais durante os momentos de louvor musical tirem a atenção das pessoas para o conteúdo das canções?

A dança é uma linguagem visual; o canto e a música são linguagens sonoras. Por isso, considerando a liturgia como uma coleção de formas ritualísticas que visa a adoração pública e o ensino na igreja, creio na possibilidade de uma unidade poderosa de todas essas linguagens na adoração. E, sendo uma linguagem visual, a dança é para ser vista mesmo. É para ser bênção e levar a igreja ao foco de Deus.
Mas nos cultos modernos, particularmente os de linha avivada, é comum os líderes de louvor estimularem o povo a levantar-se, erguer as mão, bater palmas, Isso não gera certo diversionismo no ato de adoração a Deus, que tradicionalmente era associado à contrição?

Acho que ocorre o contrário. Bater palmas, saltar, correr e até pular são manifestações corporais descritas na Bíblia como possibilidades de expressão profética em momentos de júbilo, guerra, celebração e intercessão. Às vezes, o irmão está lá no banco triste, tímido, sonolento ou distraído com outros pensamentos, ou preocupado com o trabalho; então o Espírito Santo orienta o ministro de louvor para movimentar a igreja com gestos ou com danças. Naquele momento, a pessoa pode ser tocada e cativada para a ministração e o mover de Deus.

Muitos trabalhos nesta área são feitos com bases extremamente amadoras e improvisadas, não?

No meu entender, uma das maiores dificuldades da dança nas igrejas está na falta de formação e informação, seja em que estilo for. Há igrejas que desejam iniciar um ministério de dança, mas não têm obreiros capacitados, técnica e didaticamente, para isso. Muitos consideram, por exemplo, que o balé clássico é a base de todas as danças, e isso não é verdade. Por causa deste conceito, muita gente se sente impossibilitada de dançar ou excluída do chamado para o ministério. Ou então realizam meras imitações de movimentos, sem compreenderem de fato as técnicas corporais que sustentam o balé, o que gera como produto uma caricatura da sua forma original. A excelência é muito importante - de um lado, é preciso ter uma vida no altar de Deus; de outro, um trabalho corporal de qualidade. No mundo secular, os artistas trabalham muito antes de se exporem. Na Igreja, não pode ser diferente: também precisamos nos instrumentalizar para oferecer ao Senhor o nosso melhor.

Entre os evangélicos, o uso da dança sempre esteve restrito ao evangelismo, especialmente de rua. Em que momento se deu a sua transposição para os púlpitos das igrejas?

Mas o púlpito não está restrito a espaços físicos e o evangelismo não se separa da adoração. Ambos estão intimamente relacionados ao amor que sentimos por Deus. As metas e as ações podem ser diferentes, mas a origem é a mesma - é o amor que se inicia no Senhor Jesus e se estende pelas vidas. Falamos de um estilo de vida cristão que pode se manifestar em qualquer lugar.

O fato de a dança ser algo estritamente visual, estético, não acaba gerando certo conflito na maioria dos evangélicos que são continuamente estimulados a se voltar para valores internos, da alma e do espírito?

Pois é, aqui vemos mais uma vez a cultura secular ocidental gritando dentro da Igreja. Mas precisamos analisar por duas perspectivas: a de quem ministra com a dança e a de quem é ministrado pela dança. Existe uma unidade existencial. Quando dançamos, estamos ali por inteiro - corpo, alma espírito -, mas o que é visível são os movimentos articulados de braços, pernas e cabeça. Mas os movimentos só acontecem porque são sustentados por ossos e músculos, os quais não se podem ver. Da mesma forma, não se pode ver o espírito nem a alma do dançarino - mas ambos estão lá, participantes da totalidade do existir humano. Não há como separá-los.

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