Adoração em MOVIMENTO parte V

O que é ser "ministrado pela dança"?
O sujeito está ali também em sua totalidade, recebendo uma informação que passa pelo sentido da visão, mas cujo efeito é concreto na energia vital de sua existência. Nesse processo do receber de Deus, é possível uma separação entre o corpo biológico, as capacidades intelectuais, as emoções e o discernimento no Espírito? Não. Deus não nos salvou por partes - primeiro o espírito, depois as emoções e por último o feixe de músculos com sua caixa de ossos. Exatamente porque a dança trabalha com as sensações estéticas é que ela se materializa por meio da relação dialética entre objetividade e subjetividade, entre forma e conteúdo. Aqui se instaura um complexo sistema de relações em que o Espírito Santo age também por inteiro em nossas vidas. A dança é uma maneira ímpar de discipular, quebrar barreiras socio-culturais e ensinar a Palavra. Ela gera cura da alma e de frustrações. Além disso, é um exercício físico que faz muito bem para a saúde qualquer um.

Que exemplos bíblicos você pode citar legitimando a dança como forma de louvor e adoração?

A dança desempenhou um papel importante na cultura hebréia. Ela era sempre era associada com a música e freqüentemente empregada em ocasiões de regozijo, como na passagem de Êxodo 15. Em I Samuel 18.6-7, vemos as mulheres do povo dançando e cantando após uma vitória militar de Davi sobre os filisteus. Mais adiante, em II Samuel 6, o próprio Davi dançou diante de Deus quando levava a arca da aliança para Jerusalém. No Novo Testamento, ainda na mesma perspectiva, há a citação da festa em celebração à volta do filho pródigo, narrada em Lucas 15.25. Alguns eruditos acreditam que inclusive na festa dos Tabernáculos as danças estavam presentes, diante da referências existentes nos salmos. Há, também, um texto de que gosto muito em Cantares de Salomão 6.13, que descreve um lindo diálogo entre o noivo e a noiva, em que ele diz: "Que formosos são teus passos dados de sandálias, ó filha do príncipe." Há outros textos, como em Jeremias 31.13, onde vislumbramos mais uma profecia sobre a dança: "Então, a virgem se alegrará na dança, e também os jovens e os velhos; tornarei o seu pranto em júbilo e os consolarei; transformarei em regozijo a sua tristeza."

Por que a dança evangélica contempla predominantemente estilos de músicas clássicas, em detrimento de ritmos mais brasileiros, como por exemplo o samba?

A música, na Igreja Evangélica brasileira, sofreu muita influência trazida por missionários americanos com seus hinários. Depois, outra influência significativa é a da música produzida e importada dos grandes institutos de formação para ministros de louvor e adoração, como o americano Christ for the Nations e o autraliano Shouth the Lord. Pessoalmente, gosto muito de trabalhar todos os ritmos, porque para mim quem os criou foi Deus. Claro que existe um temor compreensível das lideranças em relação ao uso de certos ritmos brasileiros na igreja, devido à sua associação com práticas corporais sensuais ou manifestações religiosas pagãs. Mas creio que muita coisa já está mudando, porque Deus está trazendo à realidade os seus projetos de restauração e retomando tudo o que é dele.

Na sua opinião, qual é o estilo que mais agrada a Deus?

Aprendi que Deus está acima da cultura, da arte, da ciência e de tudo o mais. O que importa mesmo é estar no centro da sua vontade em tudo o que fazemos. Penso que Deus não está preocupado com o estilo de dança que adotamos. O que devemos é buscar fazer o melhor, e esse melhor demanda santidade, compromisso, estudo, trabalho e dedicação. O tremendo é que Deus nos dá o livre arbítrio para escolher o estilo com o qual nos identificamos -(seja uma dança mais livre, seja o balé clássico, a dança moderna, o stret dance, o fiank, a dança hebraica, o country e tantos outros estilos. Há uma variedade de estilos e ritmos que podem ser usados na direção do Espírito Santo com ótimos resultados. Mas é preciso não perder de vista a direção de Deus e o significado da dança na Igreja.

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Adoração em MOVIMENTO parte IV

A dança não pode seguir o caminho da música cristã, que virou um espetáculo, comprometendo seu aspecto ministerial?

No Diante do Trono, temos uma posição muito definida em relação às ministrações: para nós, não existe o show, mas o culto a Deus. O que precisamos entender é que Deus não se emociona com nossa dança, nem com nossa música, muito menos com nossos talentos. Infelizmente, muitos irmãos ou irmãs têm confundido o real significado da dança na igreja. Esquecem-se de que, para nós, não existe palco. A síndrome secular de "artista", de "estrela", ainda paira no ar. Precisamos vigiar nossas motivações o tempo todo - não podemos, por exemplo, perder o foco de Deus. A dança nas igrejas não pode ser objeto de distração, mas de ligação com o Senhor. Em todos os aspectos e em todo o tempo, devemos vigiar nossa vida pessoal com Deus.

Como evitar, por exemplo, que manifestações corporais durante os momentos de louvor musical tirem a atenção das pessoas para o conteúdo das canções?

A dança é uma linguagem visual; o canto e a música são linguagens sonoras. Por isso, considerando a liturgia como uma coleção de formas ritualísticas que visa a adoração pública e o ensino na igreja, creio na possibilidade de uma unidade poderosa de todas essas linguagens na adoração. E, sendo uma linguagem visual, a dança é para ser vista mesmo. É para ser bênção e levar a igreja ao foco de Deus.
Mas nos cultos modernos, particularmente os de linha avivada, é comum os líderes de louvor estimularem o povo a levantar-se, erguer as mão, bater palmas, Isso não gera certo diversionismo no ato de adoração a Deus, que tradicionalmente era associado à contrição?

Acho que ocorre o contrário. Bater palmas, saltar, correr e até pular são manifestações corporais descritas na Bíblia como possibilidades de expressão profética em momentos de júbilo, guerra, celebração e intercessão. Às vezes, o irmão está lá no banco triste, tímido, sonolento ou distraído com outros pensamentos, ou preocupado com o trabalho; então o Espírito Santo orienta o ministro de louvor para movimentar a igreja com gestos ou com danças. Naquele momento, a pessoa pode ser tocada e cativada para a ministração e o mover de Deus.

Muitos trabalhos nesta área são feitos com bases extremamente amadoras e improvisadas, não?

No meu entender, uma das maiores dificuldades da dança nas igrejas está na falta de formação e informação, seja em que estilo for. Há igrejas que desejam iniciar um ministério de dança, mas não têm obreiros capacitados, técnica e didaticamente, para isso. Muitos consideram, por exemplo, que o balé clássico é a base de todas as danças, e isso não é verdade. Por causa deste conceito, muita gente se sente impossibilitada de dançar ou excluída do chamado para o ministério. Ou então realizam meras imitações de movimentos, sem compreenderem de fato as técnicas corporais que sustentam o balé, o que gera como produto uma caricatura da sua forma original. A excelência é muito importante - de um lado, é preciso ter uma vida no altar de Deus; de outro, um trabalho corporal de qualidade. No mundo secular, os artistas trabalham muito antes de se exporem. Na Igreja, não pode ser diferente: também precisamos nos instrumentalizar para oferecer ao Senhor o nosso melhor.

Entre os evangélicos, o uso da dança sempre esteve restrito ao evangelismo, especialmente de rua. Em que momento se deu a sua transposição para os púlpitos das igrejas?

Mas o púlpito não está restrito a espaços físicos e o evangelismo não se separa da adoração. Ambos estão intimamente relacionados ao amor que sentimos por Deus. As metas e as ações podem ser diferentes, mas a origem é a mesma - é o amor que se inicia no Senhor Jesus e se estende pelas vidas. Falamos de um estilo de vida cristão que pode se manifestar em qualquer lugar.

O fato de a dança ser algo estritamente visual, estético, não acaba gerando certo conflito na maioria dos evangélicos que são continuamente estimulados a se voltar para valores internos, da alma e do espírito?

Pois é, aqui vemos mais uma vez a cultura secular ocidental gritando dentro da Igreja. Mas precisamos analisar por duas perspectivas: a de quem ministra com a dança e a de quem é ministrado pela dança. Existe uma unidade existencial. Quando dançamos, estamos ali por inteiro - corpo, alma espírito -, mas o que é visível são os movimentos articulados de braços, pernas e cabeça. Mas os movimentos só acontecem porque são sustentados por ossos e músculos, os quais não se podem ver. Da mesma forma, não se pode ver o espírito nem a alma do dançarino - mas ambos estão lá, participantes da totalidade do existir humano. Não há como separá-los.

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